quinta-feira, 17 de março de 2011

A Justificação em Paulo e Tiago (George Knight III) - Parte 03/04

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PALAVRAS COM DIFERENTES SIGNIFICADOS


Nós podemos ver essa diferença mais claramente se nós reconhecermos os diferentes modos com que Paulo e Tiago usam os mesmos termos. Quando Paulo fala de alguém sendo “justificado”, ele tem em vista o pronunciamento de Deus de que um pecador é justo. Mas quando Tiago usa a mesma palavra, ele tem em vista a demonstração do estado previamente justificado de uma pessoa.

Isto é, alguém demonstra, através de sua obediência, o que Deus já declarou sobre ele (Tiago 2:23, citando Gênesis 15:6).


Dizendo de outra forma, Tiago está usando a palavra justificar com o significado de “demonstrar ou mostrar que se é justo, ou inocentar a si mesmo”.

Este significado para a palavra em grego é também encontrado em Lucas 16:15 e 10:28-29, como também em Mateus 11:19, Lucas 7:35, e Romanos 3:4. Em Lucas 16:15, Jesus diz aos fariseus: “Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece os vossos corações”. Similarmente, nós lemos em Lucas 10:29: “Ele, porém, querendo justificar-se...”.

Tiago está dizendo que alguém pode demonstrar diante dos homens (ou pode inocentar ou justificar a si mesmo, 2:24) que ele tem sido declarado justo por Deus. Uma pessoa pode fazer isso fazendo boas obras, exatamente como Abraão fez ao sacrificar seu filho Isaque (2:21; cf. Gn 22:9-12) bem depois de Deus tê-lo declarado justo. Tiago diz que esse episódio posterior demonstrou que a declaração de Deus em Gênesis 15:6 era verdadeira e se cumpriu (Tiago 2:23).


Quando Paulo fala de “ fé ”, ele quer dizer confiança genuína e real em Deus. Mas Tiago usa a palavra “ fé ” querendo dizer algo que precisa que se demonstre ser real na vida de alguém. Ele está tratando com aqueles que parecem expressar sua aceitação do evangelho, mas que de fato não têm fé ou  confiança verdadeira. Dessa forma, os demônios podem dizer que eles crêem, mas a sua assim chamada fé, e qualquer outra fé sem obras, é inútil (Tiago 2:19-20). Pelo menos duas vezes, nos versos 18 e 26, Tiago pede àqueles que proclamam ter fé a demonstrarem uma fé genuína, e não uma fé morta, fazendo boas obras. Isto é algo com que Paulo certamente concorda (ver 2Co 13:5; Gl 5:19-24).



AS OBRAS MANIFESTAM FÉ VERDADEIRA


Assim sendo, as palavras de Paulo não contradizem as palavras de Tiago.

Paulo também argumenta que a fé verdadeira se manifesta em obediência real.

Ele diz em Romanos 6:1-2: “Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum. Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?”.


E Paulo também fala de obras do mesmo modo que Tiago quando diz em Efésios 2:10: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”. Mas ele afirma esta grande verdade, de acordo com Tiago, após ter negado que as obras tenham qualquer parte em nossa salvação: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie”.


Dessa forma, Paulo e Tiago de modo algum se contradizem, pois eles estão usando palavras com diferentes significados e estão apontando diferentes questões. Nós podemos afirmar com confiança que as palavras de Tiago não contradizem o ensino claro de Paulo de que nós somos salvos e justificados pela fé, independentemente das obras da lei. De fato, o próprio Tiago diz que Deus já havia imputado sua própria justiça a Abraão porque Abraão havia crido nele (Tiago 2:23).

O foco de Tiago é que as boas obras de Abraão, feitas como um homem já salvo, e não para obter salvação de Deus, demonstraram ou mostraram que sua justificação era verdadeira e real.